O texto de Henry Giroux, intitulado “Alfabetização e a pedagogia do empowerment político”, faz uma abordagem
crítica sobre a importância da alfabetização, não apenas como uma
instrumentalização técnica (limitando-se a uma questão meramente funcional),
mas essencialmente como uma relação social de empoderamento e legitimação das
possibilidades de vida, configurando-se como um forte campo de luta. Seria,
assim, um meio de emancipação individual e coletiva, tanto em termos sociais,
quanto culturais.
Essa visão trazida pelo autor se contrapõe à lógica neoliberal, que impõe
uma perspectiva funcional à alfabetização, relacionada proximamente a
interesses econômicos que objetivam a formação de bons trabalhadores. Essa
mesma visão neoliberal se utiliza da lógica de alfabetização/anafalbetismo como
marca para limitação de fortes padrões considerados culturalmente valiosos e
importantes (que passam a ser os padrões das classes dominantes), em detrimento
de padrões populares, considerados deficientes e impróprios. O empoderamento
político defendido pro Giroux, em muito baseado em autores como Paulo Freire,
apresenta uma perspectiva oposta, na qual a alfabetização também serve para que
o trabalhador tenha condições de se contrapor ao sistema que o limita e o
submete a uma posição de inferioridade, dando-lhe possibilidades de luta e de
busca da liberdade, além de valorizar os seus próprios padrões culturais e
sociais.
O autor defende, assim, a importância e necessidade de uma pedagogia
emancipadora ligada à alfabetização, no sentido de desenvolver uma leitura
crítica do mundo, que não se resume de forma nenhuma à decodificação de letras
(ainda que possa se utilizar dela). Nesse contexto, a alfabetização passa a
envolver quesitos culturais, sociais e políticos, que mirem as possibilidades
de liberdade e de valorização individual e coletiva de padrões. Passa, por fim,
pela reconstrução do sujeito como cidadão ativo em sua sociedade, repleto de
deveres e direitos e conhecedor destes. Assim, o processo de alfabetização
passaria, antes de qualquer coisa, pela possibilidade de ler o mundo e de ler a
si mesmo como parte constituinte e fundamental deste, enquanto sujeito/cidadão
ativo e participativo dentro de uma lógica democrática. Desenvolve-se, assim,
uma linguagem própria, enquanto forma de entender e agir no contexto sócio-político
que envolve o sujeito, a partir dos processos de alfabetização.
A escola se configura, nessa lógica, como um campo de conflitos de
linguagens, na qual cada sujeito toma parte importante e se constitui,
construindo campos fundamentais de diálogo. Por isso, se justifica a intensa
importância dada à valorização do conhecimento construído coletivamente,
descentralizado da figura do professor, mas compreendido em termos de
colaboração entre todos. Esse entendimento, em si, já afasta a lógica funcional
da alfabetização e da escolarização, pois se nega um padrão neoliberal a ser
alcançado e de valorização de uma construção coletiva, repensando na própria
lógica do discurso curricular, que tende a valorizar mais a forma, do que o
conteúdo.
Dessa forma, questionando o próprio currículo e as bases tradicionais em
que se constitui a escola, se torna possível o empoderamento de alunos (mas
também de professores e da comunidade escolar como um todo) a partir do
questionamento de padrões, da valorização das contribuições próprias e do
incentivo a uma formação crítica e consciente. É evidente que isso depende de
um processo de conscientização coletivo, que envolve fortemente uma
reelaboração dos princípios que organizam as práticas pedagógicas e a escola
como um todo.
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