domingo, 6 de maio de 2018

ALFABETIZAÇÃO E EMPOWERMENT POLÍTICO


O texto de Henry Giroux, intitulado “Alfabetização e a pedagogia do empowerment político”, faz uma abordagem crítica sobre a importância da alfabetização, não apenas como uma instrumentalização técnica (limitando-se a uma questão meramente funcional), mas essencialmente como uma relação social de empoderamento e legitimação das possibilidades de vida, configurando-se como um forte campo de luta. Seria, assim, um meio de emancipação individual e coletiva, tanto em termos sociais, quanto culturais.
Essa visão trazida pelo autor se contrapõe à lógica neoliberal, que impõe uma perspectiva funcional à alfabetização, relacionada proximamente a interesses econômicos que objetivam a formação de bons trabalhadores. Essa mesma visão neoliberal se utiliza da lógica de alfabetização/anafalbetismo como marca para limitação de fortes padrões considerados culturalmente valiosos e importantes (que passam a ser os padrões das classes dominantes), em detrimento de padrões populares, considerados deficientes e impróprios. O empoderamento político defendido pro Giroux, em muito baseado em autores como Paulo Freire, apresenta uma perspectiva oposta, na qual a alfabetização também serve para que o trabalhador tenha condições de se contrapor ao sistema que o limita e o submete a uma posição de inferioridade, dando-lhe possibilidades de luta e de busca da liberdade, além de valorizar os seus próprios padrões culturais e sociais.
O autor defende, assim, a importância e necessidade de uma pedagogia emancipadora ligada à alfabetização, no sentido de desenvolver uma leitura crítica do mundo, que não se resume de forma nenhuma à decodificação de letras (ainda que possa se utilizar dela). Nesse contexto, a alfabetização passa a envolver quesitos culturais, sociais e políticos, que mirem as possibilidades de liberdade e de valorização individual e coletiva de padrões. Passa, por fim, pela reconstrução do sujeito como cidadão ativo em sua sociedade, repleto de deveres e direitos e conhecedor destes. Assim, o processo de alfabetização passaria, antes de qualquer coisa, pela possibilidade de ler o mundo e de ler a si mesmo como parte constituinte e fundamental deste, enquanto sujeito/cidadão ativo e participativo dentro de uma lógica democrática. Desenvolve-se, assim, uma linguagem própria, enquanto forma de entender e agir no contexto sócio-político que envolve o sujeito, a partir dos processos de alfabetização.
A escola se configura, nessa lógica, como um campo de conflitos de linguagens, na qual cada sujeito toma parte importante e se constitui, construindo campos fundamentais de diálogo. Por isso, se justifica a intensa importância dada à valorização do conhecimento construído coletivamente, descentralizado da figura do professor, mas compreendido em termos de colaboração entre todos. Esse entendimento, em si, já afasta a lógica funcional da alfabetização e da escolarização, pois se nega um padrão neoliberal a ser alcançado e de valorização de uma construção coletiva, repensando na própria lógica do discurso curricular, que tende a valorizar mais a forma, do que o conteúdo.
Dessa forma, questionando o próprio currículo e as bases tradicionais em que se constitui a escola, se torna possível o empoderamento de alunos (mas também de professores e da comunidade escolar como um todo) a partir do questionamento de padrões, da valorização das contribuições próprias e do incentivo a uma formação crítica e consciente. É evidente que isso depende de um processo de conscientização coletivo, que envolve fortemente uma reelaboração dos princípios que organizam as práticas pedagógicas e a escola como um todo.

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